Stańczyk é uma pintura do polonês Jan Matejko concluída em 1862.
Bandeira é separativismo
Grupo é segmentarismo
Divisão e exclusão
Que na identificação
Sufoca a singularidade
Que deixa de se expressar
Em nome de um pertencimento arbitrário
E cáustico
Neuróticos caminhamos para o abismo de um desencontro conosco mesmos
Num mundo cada vez mais horizontal
De superfícies banais que intencionalmente
Não pretendem promover o menor sentido de aprofundamento e verticalidade
Sentido pra que?
Rumamos perdidos pelas vozes dos mortos que ecoam como fantasmagorias de um passado, tão perdido quanto o presente que não se atualiza, mas se martiriza
E nos esteriliza
Forjamos para sobreviver
Uma comunidade de condutas esquizofrênicas
Que insinuam um real completamente inconsistente
Ou seria melhor dizer inconsciente
Que insuflam uma desconexão
Apartando-nos do fator real da evolução
O binômio humano-espiritual
O caráter ético-real
O valor do justo e do bom por excelência
Sem personalismo
Mas fraternidade
Sem egoísmo
Apenas
Humano
Que assim como o humilde
Que deveria ser aquele que se mantém com os pés no chão, na terra úmida
Para florescer
E renascer mais
Humano
Que vem de húmus, do grego terra fértil
Humano
Capaz de gerar e criar com potência
Sem a arrogância do ego que se infla até a estratosfera, animalizado
Impermeabilizado
Ignorante
Dessensibilizado
Como o balão desgovernado
Perdido entre as nuvens
Do eusismo
Num eufemismo fulgaz
De uma fuga sem paz
Feliz, como o eufórico tolo que desconhece a própria tolice que o mantém preso como títere
Em conduta plástica, imitativa, reprimida
Intoxica a natureza exterior e interior
Desbalança o equilíbrio natural
E leva ao caos insustentável atual
Mas como nos diz George Agamben
A comunidade do futuro será liberta desse horizontalismo massificante
Será uma comunidade de comuns, de singularidades
Desidentificada das bandeiras que segregam e protegem o tolo que vive no egocentrismo
Desconectado de si e com medo do autoencontro, com preguiça da autorrealização
Que com medo de olhar para as sombras
E trabalhar suas potências
Se acomoda, estacionado nas paragens do mal-estar
Se esconde na defesa do grupo que acolhe os ansiosos pelo amor que nem mesmo sabem dar a si mesmos
Já que, como diz Francisco, é dando que se recebe
Do contrário, permanecem na inércia e se desvitalizam, se vitimizam
Se escravizam em nome da liberdade capitalista
Do neoliberalismo farsesco
De zombarias truanescas
Transferindo suas culpas sempre para outro bobo que de bom grado aceita o papel
Enquanto outros tolos transferem suas riquezas mais íntimas para as contas bancárias daqueles que manipulam a multidão de incautos
Numa vida rica de misérias
Divertindo-se sob a fome e a desolação
Vivendo mortos
Desintegrando sua consciência na solidão
Na política da ignorância, o lema é:
Possuindo é que se recebe
O retrato da sociedade usurpadora das singularidades
E seguimos solapando e soluçando
Nos desesperos desenfreados de ter e conquistar
Na gana do poder pelo prazer
Delineando uma sociedade cruel
E doentia que enaltecemos
Nas redes manicomiais
Como ode ao nosso egoísmo
E à nossa vaidade
Um brinde à ela
Essa asa quebrada do débil poder
Copyright Flavio Graff
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