Eu sou
- flaviograff

- Apr 8
- 2 min read
Updated: Sep 13
por Flavio Graff

Eu sou o silêncio nas horas tardias
Eu sou a selva que brilha nas noites vadias
Eu sou a estrada que por ela corta vazia
E a pantera que negra magrela jazia
Eu sou a pedra que sustenta a pinguela e mantém sólido o precipício
Eu sou a nau que revolve as ondas amargas do teu vício
E os remos que te afastam do teu duro ofício
Eu sou o som que ressoa nas sondas do ínfimo particípio
No ar penetrado no fundo das almas desde o início
Sem princípio estilístico
Nem fim metalinguísitco
Eu sou o verbo que o passado perpetrado verteu propício
Eu sou o arco que se enverga na rota farta da destinação
Eu sou a vela que te guia no sangue frio da fascinação
E a taça que derrama toda essa franca ilusão
Eu sou a força que pacifica a luta surda na tua imensa solidão
Eu sou o manto que te descobre da angústia e de toda a sólida perversão
E transforma tua mediocre flâmula em sutura confusão
Puramente estarrecida já era minha plena confisão
Na minha lacuna esclarecida em meio à soturna previsão
E sou a natureza que reclama em vão a busca frenética da disputa esmaecida
Da desconhecida farsa que mama na labuta entristecida
Ignorada, a mente é tão sublime quanto brusca
Robusta como estar à frente da histórica face etrusca
Da pátria vaga que debuta longínqua na mente tão enrijecida quanto injusta
Que já não mais se revolta ou se ofusca
Esquecida daquele que fui, minha calma se ajusta
Eu sou aquele que ainda se espanta diante do inominável
Eu sou o abismo relevante no ânimo branco e indomável
Sou aquela paixão tardia que se arredia a cada pecado inefável
Sou aquela verve que se distancia do absurdo e de todo bem abominável
Sou o pranto que se retira ardiloso do chão ilusório em si mesmo instável
Movediço
Desagradável
Eu sou tudo e sou nada
Sou o eu, o entanto, o antes e o mero infante afável
Sem nunca cansar-me de ser esse proto-instante de versões, inadiável
Nesta selva de verões muda e precária
Onde um falso mutante brilha como um clarão mítico e arável
Eu sou assim mesmo, mesmo que sendo vago para mim
Antes mesmo sendo o fundo do lago para você
Mas lembre-se de que quando você se deitar nela
Que é em mim que você se deita
Pois o tufo da grama que te acolhe e dá sentido à tua estóica relva
Que revira a vida e revolta a selva
Esse mesmo, infinitamente, sou eu
Copyright Flavio Graff





Comments