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Eu sou

Updated: Sep 13

por Flavio Graff


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Eu sou o silêncio nas horas tardias


Eu sou a selva que brilha nas noites vadias


Eu sou a estrada que por ela corta vazia


E a pantera que negra magrela jazia


Eu sou a pedra que sustenta a pinguela e mantém sólido o precipício


Eu sou a nau que revolve as ondas amargas do teu vício


E os remos que te afastam do teu duro ofício


Eu sou o som que ressoa nas sondas do ínfimo particípio


No ar penetrado no fundo das almas desde o início


Sem princípio estilístico


Nem fim metalinguísitco


Eu sou o verbo que o passado perpetrado verteu propício



Eu sou o arco que se enverga na rota farta da destinação


Eu sou a vela que te guia no sangue frio da fascinação


E a taça que derrama toda essa franca ilusão


Eu sou a força que pacifica a luta surda na tua imensa solidão


Eu sou o manto que te descobre da angústia e de toda a sólida perversão


E transforma tua mediocre flâmula em sutura confusão


Puramente estarrecida já era minha plena confisão


Na minha lacuna esclarecida em meio à soturna previsão



E sou a natureza que reclama em vão a busca frenética da disputa esmaecida


Da desconhecida farsa que mama na labuta entristecida


Ignorada, a mente é tão sublime quanto brusca


Robusta como estar à frente da histórica face etrusca


Da pátria vaga que debuta longínqua na mente tão enrijecida quanto injusta


Que já não mais se revolta ou se ofusca


Esquecida daquele que fui, minha calma se ajusta



Eu sou aquele que ainda se espanta diante do inominável


Eu sou o abismo relevante no ânimo branco e indomável


Sou aquela paixão tardia que se arredia a cada pecado inefável


Sou aquela verve que se distancia do absurdo e de todo bem abominável


Sou o pranto que se retira ardiloso do chão ilusório em si mesmo instável


Movediço


Desagradável


Eu sou tudo e sou nada



Sou o eu, o entanto, o antes e o mero infante afável


Sem nunca cansar-me de ser esse proto-instante de versões, inadiável


Nesta selva de verões muda e precária


Onde um falso mutante brilha como um clarão mítico e arável



Eu sou assim mesmo, mesmo que sendo vago para mim


Antes mesmo sendo o fundo do lago para você


Mas lembre-se de que quando você se deitar nela


Que é em mim que você se deita


Pois o tufo da grama que te acolhe e dá sentido à tua estóica relva


Que revira a vida e revolta a selva


Esse mesmo, infinitamente, sou eu



Copyright Flavio Graff



 
 
 

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