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Guerra e paz

Updated: May 18, 2021


Lisboa 15/04/2021


A paz alcançada através da guerra

Mata o coração e desvalida o espírito

Retira a liberdade daquele

Que se atormenta com os crimes cometidos

Que ecoam na consciência culposa

Nos inconscientes gemidos

Do herói que podia ter sido irmão

Ou até mesmo amigo do ser temido

O inimigo

Não caiamos na ilusão desse perigo

.

Muitas vezes, a linha divisória que segrega um ser do outro numa guerra é tão frágil…

Quase sempre é um mero fato que inicia todo o desconforto, gerando o doloroso confronto

Que com um simples gesto de sair do seu lugar, de respeitar a diferença ou um simples eu te amo

Teria sido resolvido com um belo encontro

.

Ironicamente, o que separa os humanos nas suas disputas insanas

É uma tênue linha que chamamos de amor

Onde de um lado, temos aquele que ama impassível

E se conclama o libertador

Encontrando nos meios impositivos

A forma de expressar o seu mais alto louvor

E do outro, paradoxalmente

Perseguindo ideais leais, também apaixonado por esse mesmo amor

Da liberdade autoritária

Da desculpa visionária

Acende o seu calor

E ateia fogo nos campos

Do mesmo modo opressor

Mas como eles pertencem a dois partidos diferentes

Incongruentes

Com visões fanáticas

Divergentes

Se cegam

E não sossegam

No ser intransigente

No amor

À pátria

À religião

À reeleição

Ao próprio tesão

.

No torpor da sua visão

Ocorre a divisão

E como no amor entorpecido de um fã

No afã de fazer o seu melhor

Vai se moldando estéril sob o viés

Enviesado

Envernizado Escamoteado

No que lhe há de pior

Personalista, egoísta

Estadista

Suprematista

Pelo simples fato de ter estado atado

Aos primarismos do instinto masoquista

Maltratado

Lá mesmo onde o ego se fundou cego

Teleguiado

Sem ter renunciado

Aos templos da experiência animal

.

Nesse fanclubismo excludente

Emergente

De estados diferentes

Disputamos e honramos

Dizimamos e horrorizamos

Dominamos e homogeneizamos

Descartamos e obliteramos

Sempre vangloriados como os heróis marcianos

Amaciando a carne dura na prepotência

No turbilhão da autorreferência

Contendo as mesmas inconsistências

Contando as mesmas incongruências

Cantando as mesmas evidências

Que se espelham no outro

Que se rebatem no véu do cenário fantástico

O Olimpo dos deuses decadentes

Ilusórios e nada imanentes

Sem perceber que as diferenças

Na verdade são todas iguais

Como os simples pães

Das refeições matinais

.

E não seriam, assim, então

Todas as histórias de terror e glória

As mesmas de uma só histeria da memória?

.

Num jogo de azar

Pra lá do apego narcisista

Jaz no arquétipo da memória

O medo da sombra derrotista

Sem saber que no fundo, a escória

Busca sempre a sublimação do artista

Que na proposta de estética simplória

Explora a visão universalista